29.5.08
Ser (em) português?
Tudo bem, chamem-me nomes, mas eu pergunto na mesma. Porque é que há tanta gente tão revoltada e sofredora com a história do novo acordo ortográfico? Ai que mata a língua, ai que desgraça, ai coitadinhos de nós que nos querem roubar o nosso lindo idioma, ai ai ai, ui ui ui, nós gostamos é de arranjar coisas para nos queixarmos. Depois é manifestos indignados assinados por membros ilustres da nossa sociedade, auto-intitulados defensores dos grandiosos valores da língua mãe.
Terei mesmo vivido uma realidade paralela todos estes anos da minha vida (às vezes penso mesmo que sim), ou é ou não é verdade que os portugueses se estão marimbando para o português?
Vejamos: os portugueses morrem tanto de vergonha da sua língua, que se não for fado, Jorge Palma ou um freak alternativo e drogado a cantar, a música cantada em português é sempre quase sempre uma merda, desculpabilizada com olhares condescendentes e vagamente trocistas.
Ter um qualquer programa informático instalado em português é, mais que um crime, a prova suprema de uma pinderiquisse irremediável. Da mesma forma, é proibido arranjar equivalente português para tudo o que são palavras novas e tecnologicamente inovadoras.
Em seguida, goza-se com outras gentes, e assim de mansinho lembro-me dos franceses, dos alemães e, por supuesto, dos hermanos. Porque deste lado da fronteira, a malta curte chamar "red inalámbrica" ao wireless e porque “baja” cenas da rede em vez de fazer download, e porque um template é, com muito gosto, uma "plantilla".
Quando vim para Madrid pela primeira vez não dizia duas seguidas de espanhol. Acontecia-me muitas vezes não ter vocabulário e amigos meus, numa de me tentarem ajudar, perguntavam-me como é que dizia a palavra em português (podia ser que fosse parecido). E eu, mais que uma vez, dei por mim a responder, envergonhada, “não sei”. “Mas não sabes como?” “Porque nós usamos a palavra inglesa”. E depois, certo e sabido, levava um sermão que começava e terminava em “realmente não gostam nada da vossa língua…”. O que responder? Isto faz algum sentido.
A verdade é que muitos dos mais sinceramente ofendidos com o acordo falam mal, escrevem mal, e pior, não fazem a mínima ideia do que estão a criticar no acordo, não porque não haja nada para criticar, mas simplesmente porque não se deram ao trabalho de o ler.
No que me diz respeito, só há duas palavras que ouvi (quase) todos os portugueses pronunciarem de boca cheia, orgulhosa, e por vezes mesmo meia salivante e empolada: uma é "doutor", a outra é "engenheiro". Aí é que é uma festa, vê-los perdidos de contentamento nos seus “a doutora isto” o engenheiro aquilo”. Que felicidade. Estas duas palavras, pelo menos, ainda se dizem em português.
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2 comentários:
Para já não falar de outra coisa maravilhosa que é ... a maneira como se tecla nas sms, no messenger e o ' internetês ' ... tipo : Fdx, tou aki a mikar uma xena k nem ta digo '
O meu querido futuro sogro dizia mais, em tempos ele esteve a trabalhar na construção da ponte 25 de Abril ( ex-ponte Salazar ) e dizia que entre todos os trabalhadores e engenheiros de várias nacionalidades, os nossos destacavam-se porque era os únicos que iam de fato e sapatinho trabalhar...
Infelizmente é uma questão cultural e temos um medo terrível da mudança... e se este país precisa de mudar.
Beijo
Joana
Excelentissimo Senhor, también se dice en Lusitania Felix......
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