30.5.07

Conclusões

Em altura de balanço inevitável, reflicto sobre o melhor dos últimos meses. Não acabo de compreender como é que o destino me levou para Sines (olha eu a demitir-me das minhas escolhas e a desculpar-me com esse pobre ente que arca com todas as desgraças dos portugueses, o destino, o nosso fado preferido!). Mas volto com algumas conclusões seguras:

- Agora sim, tenho a certeza de que eu não fui feita para viver no campo. Eu já sabia, mas permanecia aquela duvida que corroi, aquela vozinha que me dizia "Margarida, tu se calhar até vais gostar dessa vida pasmacenta, da suposta qualidade de vida, de não ter trânsito, qualquer dia até pode ser que tenhas umas galinhas e uma horta..." Definitivamente, NÃO! Agora posso dizer à parvalhona da vozinha que esteja caladinha, eu já experimentei, e não fosse o maravilhoso ginásio Kalorias ter imprimido algum ritmo ao meu quotidiano, bem que tinha definhado por ali.

- Eu não tenho mesmo perfil para aturar gente tonta, o que torna claramente impossivel a minha continuidade num sítio em que o tonto em particular é o chefe. Sim, eventualmente boa pessoa, divertido, coitadinho está a fazer o melhor que sabe, mas o melhor que sabe é muito fraquinho e infeliz de mim, nunca consigo disfarçar o meu desagrado! Sinceramente, não estou para aturar malucos. Antes eles que eu.

- Aprendi que não interessa o nome da empresa para a qual se trabalha, não interessa que seja uma das dez melhores da Europa para se trabalhar, que seja a mais transparente, ou a que mais investe em conhecimento. O que interessa é o chefe que se tem (vide parágrafo anterior) e o ambiente geral de trabalho. Mas foi bom, fiz tábua rasa às minhas expectativas, quiçá bastante exageradas. Às vezes é preciso.

- Last but not the least, além dos seis gatinhos e duas gatas a quem salvei a vida, eu fui a Sines para voltar com o meu Charlie, o gato que eu ansiava e que foi abandonado à minha porta com apenas cinco meses. O meu Charlie, e perdoem-me aqueles que acham que um gato "é só um animal", é a razão pela qual eu jamais me arrependerei de ter passado por Sines, entre Agosto de 2006 e Maio de 2007.


28.5.07

Ter dois dedos de testa...

... é por gasolina no Intermarché (ou qualquer outra cadeia de supermercados que venda mais barato e ainda em cima com desconto das compras efectuadas). Isto é garantido, meus amigos. Olhem que eu sei como se faz gasolina. E mai nada!

27.5.07

Adeus Sines

E pronto, com muito suor mas sem lágrimas, lá consegui empacotar a tralha toda e deixei a minha mais recente casinha. De há três anos a esta parte que não passo um ano seguido no mesmo sítio. É engraçado, antigamente relembrava o passado com "o que eu estava a fazer", agora o raciocínio equivalente é "onde é que eu estava nessa altura".

De cada vez que mudo sinto um misto de algum medo e muita excitação. Quando se muda desiste-se de muitas coisas que habitualmente damos por garantidas, a favor de gente nova, hábitos novos, rotinas novas. E de que cada vez que se muda, começa-se tudo de novo. É um universo repleto de novas possibilidades que se abre à nossa frente.
Há inconvenientes, claro. É inevitável perder relações, ainda que goste de acreditar que tal não acontecerá. Mas enfim. Não me estou a queixar. Vou mudar outra vez porque quero, e desta vez com a vantagem de voltar a um sítio que já conheço.

Vou ter uma semana apinhada, entre burocracias legais, compras variadas, almoços e jantares de última hora com amigos e família, promessas de visitas, etc, etc, etc. Assim, ala que se faz tarde! A Sines voltarei sempre com o coração, e de corpo e alma no Verão!

24.5.07

Previously on Lost

Oh, o que vai ser de mim? Pronto, já está, acabei de ver o season finale do lost! Lindo. Soberbo. E agora? Como é que vou aguentar até Fevereiro de 2008?

18.5.07

Viver junto ao mar

Pois é, passei dez meses a agonizar em Sines, mas como sou um coração mole, na hora do adeus, levo mais boas recordações do que pensava à partida ser possível.

E o mais engraçado é que depois de ter passado todo este tempo a refilar, vou ter imensas saudades do mar! Se dúvidas houvessem, é a prova provada de que sou portuguesa, aliás, desconfio até que haja uma forte possibilidade de, noutra vida, ter sido o Vasco da Gama.

Viver ao pé do mar é um filme totalmente distinto daquele que sempre idealizamos (normalmente cheio de romantismos e lamechices). A verdade é que, de um ponto de vista prático, viver ao pé do mar é uma bodega. Em todos os cantos da casa, nas paredes, no fundo das gavetas, em todas as bolsas e tops e saias e sapatos, em todas as partes descobre-se, entranhado até à medula, esse terrível inquilino (que ainda para mais não paga renda!): o BOLOR!

E qual desumidificador, qual quê. Com os litros de água que eu saquei do ar da minha casa nos últimos meses podia-se combater a seca no interior do Alentejo durante os próximos cinco verões, no mínimo. Aliás, acaba de me surgir uma ideia com um potencial interessantíssimo: instalar um sistema de desumidificação atmosférica ao longo de toda a costa alentejana e vicentina, canalizar a aguinha directamente para o interior e voilá, aí estavam todos os sistemas de rega que ainda não existem, apesar do Alqueva. Que pena, já não serei eu a implementar tão genial projecto.

Mas sim, a bem da verdade há que admiti-lo, ver o mar todos os dias é um privilégio sem igual. Apesar da humidade e do vento (há que aprender a viver-se despenteada), eu sei que vou ter muitas, mas mesmo muitas saudades desta vista incrível da minha janela. Mas é vida e já se sabe, não se pode ter tudo, e seguramente não se pode ter o melhor de dois mundos.

14.5.07

Quando a esmola é demais...

Estava aqui animadamente a ver anúncios de apartamentos em Madrid, quando de repente encontro esta pérola: BUSCO CHICA PARA COMPARTIR PISO DE LUJO, EN PUERTA DEL SOL, MADRID Piso para 2 personas valorado en 2.100 €/mes, con todas las comodidades y con derecho a todo. Tiene todo: lavavajillas, secadora, aire acondicionado en todas las estancias, hidromasaje, televisores plasma, dvd, suelos Madera, asistenta, etc.Precio: nada. A cambio me basta una cita a la semana. Cita puede incluir salir a cenar, tomar algo, intimar, etc. 1 vez/semana máximo.Comparto por meses, semanas,... me adapto.YO, empresario de 33 años, soltero, siempre trabajando y sin tiempo para vida social. Alto, educado, no-fumador, simpático, divertido y muy buena planta.Se requiere buena presencia, saber estar, y edad máxima 32 años. Email: pisolujoensol@hotmail.com Lindo. Isto é mesmo incrível. Gosto especialmente da parte em que se diz "1vez/semana máximo" assim como quem tenta convencer-nos a fazer uma cena muito chata mas como é só de vez em quando pronto, então vá, nem custa tanto. Que parvalhão.

13.5.07

Absolutamente

Eu Absolutamente, Ele Simplesmente. Porque os nossos nicknames transbordavam classe, em oposição à piroseira abundante de "coisinhos" e "coisinhas" que a maioria dos casalinhos proferem por entre beijinhos peganhosos e enjoativos. A história é simples, e remonta ao início da nossa atribulada relação. São tão fascinantes os inícios, deviam nunca terminar. Num qualquer momento de parvoíce absoluta, abraçados, a rir, ele dizia “Oh pá, oh pá, tu és absolutamente, absolutamente...” e ficava ali, a rir e a pensar na melhor expressão. Nesse tempo, “quando o meu corpo era um aquário, e os seus olhos peixes verdes”, ele apelidava-me de absolutamente espectacular e incrível e fantástica e estupenda e tudo e tudo e tudo. Mas está claro que com o tempo a pureza perdeu-se. Foi substituida por palavras vãs, desconfianças, mentiras e intolerância. Eu continuei a ser Absolutamente... mas no meio das discussões e das palavras gastas, eu sabia que quando ele dizia “tu és absolutamente” e ficava a pensar, as expressões que lhe ocorriam eram outras, o que lhe vinha à cabeça era insoportável e irritante e crítica e arrogante em vez de espectacular e incrível e fantástica e estupenda. Mas é assim, vemos sempre melhor as qualidades dos que conhecemos mal e os defeitos dos que conhecemos bem. Seja como for, ele nunca duvidou, nem eu, que chamar-me Absolutamente era definir-me com uma palavra. Para o bem e para o mal, eu tenho um compromisso dos meus actos com as minhas palavras, eu sou tremendamente consequente, eu só posso e só consigo viver com determinação total e absoluta. Absolutamente sou eu.

12.5.07

Boa publicidade

Cada vez que oiço aquelas três adolescentes putéfias com o seu “trim, trim...trim, trim”, tenho que ir ver o melhor anúncio do ano (até ao momento) para aliviar o stress. Infelizmente não abunda, mas eu adoro boa publicidade!

9.5.07

É a cultura, estúpido!

Como cada um puxa a brasa à sua sardinha, e porque me irrita um bocado esse conceito pobrezinho de que ter muita cultura passa apenas por conhecer muitos autores e fazer muitas citações e saber a história da literatura de trás para a frente, deixo aqui uma informação bombástica (mesmo BOMBÁSTICA) para todos os pseudo ambientalistas pelintrosos que abundam por esse mundo fora (e para alguns jornalistas também). Esses senhores, essa corja ignorante que debita mentiras patéticas a torto e a direito, violando não raramente as mais básicas leis da física, da química e do senso comum, deviam fazer o favor de estar calados. Mas não. Não. Temos que levar com eles como se fossem os donos inequívocos do planeta, como se das suas bocas saisse algo mais que baboseiras e desejos incontrolados de protagonismo, disfarçados de preocupação com o ambiente. Claro que a comunicação social tem culpa nisto, porque papa tudo, tudo, é incrível, é com cada estupidez que o melhor mesmo é rir para não secar de tanto chorar. Bom.

Então é assim. Aquelas imagens aterrorizadoras que vocês adoram propagandear como poluição atmosférica, aquelas chaminés a debitarem enormes quantidades de fumo branco, sabem? Não é fumo assassino, é só ÁGUA.

A pior poluição na maioria das vezes nem se vê, amiguinhos. E não me venham com a treta do impacto visual, que se isso matasse não havia gente neste país, tendo em conta a quantidade de mamarrachos que se constroem a torto e a direito.

Para lutar contra quem de facto viola as leis e polui impunemente, seria necessário vossas excelências terem, no meio da tanta histeria colectiva, alguém com verdadeiro espírito científico, que medisse e analisasse cada situação antes de se prender com algemas às portas de um qualquer complexo industrial a berrar palavras de ordem e desatar a telefonar para os jornais locais do seu telemóvel, por sinal feito de plástico (mais uma informação bombástica – o plástico vem do petróleo, é melhor fazerem uma campanha contra).

Já agora, alguém me explica porque é que estes gajos são quase sempre comunas? E porque é que os comunas se colam sempre a causas que não têm nada a ver com a política? Que asco, deturpam tudo, transformam tudo em “povo versus interesses económicos”! Não há paciência!

8.5.07

Madeleine

Quem disse que a natureza humana era “boa” errou em cheio e todos nós o sabemos. Todos gostamos de acreditar que somos essencialmente “bons”, quando na verdade sabemos que de tão imperfeitos, necessitamos de encher as nossas sociedades de moral, ética e leis. E mesmo assim é o que se vê. Dos vários e repugnantes casos relacionados com crianças que têm vindo a lume na nossa comunicação social, a notícia do momento é, sem sombra de dúvida, a do desaparecimento da menina inglesa no Algarve. Sinto-me pouco atraída pela discussão dos efeitos colaterais deste caso, mas haverá com certeza vários empresários e presidentes de câmara a deitar as mãos à cabeça. “Raios partam a merda dos bifes” pensarão eles, porque quando pensam na desgraça daquela família, a verdadeira dor que sentem é a das contas que começam já a fazer: quantos desses bifes, a massa crítica que mais alimenta o Algarve, amedontrados com o que se tem dito na imprensa inglesa, não voltarão mais aos seus aldeamentos turísticos? Estes pensamentos não os confessam nem ao espelho, mas sabem que os têm, e sabem que a sua natureza é fundamentalmente mesquinha, em vez de “boa”. O que me atrai nesta história é pura e simplesmente o drama daquela família, os acontecimentos infelizes que lhes estavam destinados, aquela coisa mórbida que me obriga a colocar-me um pouquinho na seu pele (porque é impossível sentir tudo o que sentem) e a não conseguir evitar as lágrimas de cada vez que olho os olhos azuis, repletos de fim, de Kate McAnn. Lembro-me que quando era pequena tinha por vezes pesadelos nos quais pessoas tentavam roubar a minha irmã mais nova. Eram sonhos intermináveis nos quais eu fugia, com ela ao colo, mas ficava tão cansada por correr tanto, tanto, que me apanhavam sempre, e aí, felizmente, acordava. Lembro-me que uma vez, no Verão do meu oitavo aniversário, quando ainda passávamos boa parte das férias na Costa da Caparica, perdi-me na praia. Uma senhora viu-me choramingar, perdida, e com ajuda das minhas explicações levou-me ao parque de campismo, onde estavam os meus avós. Passado uma hora apareceu o meu padrasto na tenda, eu já estava lá, almoçada e tudo, ele estava muito vermelho e gaguejou quando me viu, deu meia volta e foi buscar a minha mãe, que tinha ficado na praia. A minha mãe estava na praia, à minha procura. Tinha-se recusar a sair da praia. Não podia ir embora, porque para ela, isso seria o mesmo que abandonar-me ali. Pergunto-me como será o dia em que a mãe da Madeleine se meter num avião, sem a sua pequenita de três anos, a caminho do Reino Unido. No dia em que tiver de deixar a praia, quanto de si regressará vivo, ao país de onde partiu, alegremente, para umas férias no Algarve.

5.5.07

Insiste, insiste!

Finalmente, ganhei vergonha na cara e decidi que já era tempo de voltar a tentar. Da primeira vez não correu lá muito bem, é um facto. Diga-se de passagem que não foi lá muito inteligente começar um blog a meio de uma pós-graduação suicida.
Agora, se tudo o que é dona de casa e administrativo da função pública com acesso a um PC tem um blog, euzinha também tenho que ter.
Eu, que tive de aturar as minhas profs de português e filosofia do secundário durante três anos: “Tenho a certeza que faria um óptimo curso de filosofia!”, “Tem tanto jeito para escrever, o jornalismo foi feito para si”! Coitadas, queriam à força que eu mudasse para Humanidades! E eu pensava “Yeah, right” e continuava a fazer contas à média que necessitava para entrar no Técnico. Sempre muito prática eu... primeiro, fazer licenciatura que garanta emprego, depois, logo se pensa em devaneios literários.
Mas uma vez, uma cartomante disse-me que ia ganhar o Nobel da Literatura. Ora, há que começar por algum lado, não é? Não há volta a dar, eu também tenho que ter uma porcaria d’um blog!! E por muito mauzinho que seja, é só mais um blog no meio de tantos. Não é obrigatório gostar, nem sequer ler. Mas foi mais forte que eu. Eu tinha que ter um blog.