“… E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.”
Miguel Sousa Tavares no funeral da mãe, Sophia de Mello Breyner Andresen
Liliana: não te sei consolar. Mas gostava de chorar contigo, se me deixares. Beijo.
3 comentários:
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
Obrigada, Margarida. Do coração.
Vê o filme "Big Fish" do Tim Burton, Liliana. Não te consola da tua dor, mas tem um final ao estilo do que descreves, muito bonito. Não sei o que te dizer. Não há nada que se possa dizer. Beijinho.
Adoro MST! Quando li "Não te deixarei morrer David Crocket" fiquei parva como aquele comentador televisivo, frio e ríspido era capaz de escrever com uma sensibilidade que poucos conseguem. É um facto que ele é filho de quem é, mas isto dos genes nunca se sabe.
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