30.4.08
29.4.08
Eu trabalhei aqui...
Sempre que olho para esta imagem lembro-me como era especial trabalhar num complexo petroquímico. Esta paisagem industrial, com as luzes já acesas, ao cair da noite, é uma preciosidade que nem todos têm a sorte de compreender.
Assim se passaram dez meses da minha vida, com todos aqueles clichés patéticos da qualidade de vida, longe da confusão das cidades, sem trânsito e sem stress. Balelas. Em Portugal, viver fora de Lisboa é ter de renunciar a quase tudo. Ora, eu prefiro ter acesso a tudo e não ter tempo para metade. Em Sines, eu tinha tempo e aborrecia-me de morte (abençoado Kalorias, acreditem que eles não me pagam pela publicidade, mas aquele ginásio salvou-me a vida).
O trágico – cómico disto tudo é comprovar in loco e na própria pele a incompetência e inaptidão dos recursos humanos da companhia que, na Península Ibérica, é a que mais investe em formação e conhecimento. A mesmíssima Repsol YPF que tão bem intencionada é nos seus estudos de clima laboral e na sua tentativa de gestão por objectivos para premiar o mérito, a grande maioria das vezes só faz merda atrás de merda e consegue por isso dispor de uma grande quantidade de recursos humanos altamente insatisfeitos, que vão ficando sobretudo porque os espanhóis valorizam muito a estabilidade laboral (tiveram 20% de taxa de desemprego nos anos 80 e isso não se esquece facilmente).
Aqueles senhores pagaram-me uma pós-graduação de um ano em Madrid, mais bolsa de estudo, fizeram-me 50 biliões de testes de perfil, disseram-me "não pense que vai trabalhar para Portugal porque nós queremos gente com mobilidade geográfica" (e eu feliz e contente). No fim de tudo, ofereceram-me o posto "técnico de processos em Sines" e que sorte a tua, que vais ficar tão perto de casa e tens uma excelente carreira pela frente, 20 anos de Sines até seres directora do complexo. O raio que os parta. Depois passei o ano a dizer, “mas eu quero estar no estrangeiro agora”. “Eu também posso trabalhar em projectos relacionados com Sines, mas em Madrid”. Em troca, o melhor que consegui foi o comentário "tu tens muita pressa, daqui a dez anos vais ver que já viajas a Madrid".
E portanto, quando recebi um telefonema de outra empresa a perguntar "Ainda está interessada em viver e trabalhar em Madrid?", não tive grandes dúvidas nem grandes dilemas existenciais.
Faz agora um ano que entreguei a minha carta de demissão. O mesmo director de RH que me contratou disse-me "nós sabíamos que o teu perfil se enquadrava mais para os escritórios centrais, a gerir um grupo de pessoas, mas agora precisávamos de gente aqui." Numa entrevista de saída que fiz com um tipo de Madrid, ele agradeceu-me imenso a clareza com que lhe tinha explicado toda a situação, que batia tudo certo com os números que tinha, mas agora conseguia compreender o que realmente se passava. E que achava que eu tinha muito jeito para recursos humanos (medo).
No mês passado, soube que a Repsol trouxe, da Argentina para Madrid, mais uma pessoa para a gestão do projecto de Sines. Ri-me. Tontos. Podia ter sido eu, ficava-lhes mais barato e não tinham perdido um recurso humano em quem gastaram o que gastaram e que, caso tivessem feito as coisas bem feitas, teria sido o trabalhador mais dedicado do mundo. E, quando penso nisto, sei qual foi o meu erro: ter vontade própria. Nunca gostei que me impusessem nada.
Assim se passaram dez meses da minha vida, com todos aqueles clichés patéticos da qualidade de vida, longe da confusão das cidades, sem trânsito e sem stress. Balelas. Em Portugal, viver fora de Lisboa é ter de renunciar a quase tudo. Ora, eu prefiro ter acesso a tudo e não ter tempo para metade. Em Sines, eu tinha tempo e aborrecia-me de morte (abençoado Kalorias, acreditem que eles não me pagam pela publicidade, mas aquele ginásio salvou-me a vida).
O trágico – cómico disto tudo é comprovar in loco e na própria pele a incompetência e inaptidão dos recursos humanos da companhia que, na Península Ibérica, é a que mais investe em formação e conhecimento. A mesmíssima Repsol YPF que tão bem intencionada é nos seus estudos de clima laboral e na sua tentativa de gestão por objectivos para premiar o mérito, a grande maioria das vezes só faz merda atrás de merda e consegue por isso dispor de uma grande quantidade de recursos humanos altamente insatisfeitos, que vão ficando sobretudo porque os espanhóis valorizam muito a estabilidade laboral (tiveram 20% de taxa de desemprego nos anos 80 e isso não se esquece facilmente).
Aqueles senhores pagaram-me uma pós-graduação de um ano em Madrid, mais bolsa de estudo, fizeram-me 50 biliões de testes de perfil, disseram-me "não pense que vai trabalhar para Portugal porque nós queremos gente com mobilidade geográfica" (e eu feliz e contente). No fim de tudo, ofereceram-me o posto "técnico de processos em Sines" e que sorte a tua, que vais ficar tão perto de casa e tens uma excelente carreira pela frente, 20 anos de Sines até seres directora do complexo. O raio que os parta. Depois passei o ano a dizer, “mas eu quero estar no estrangeiro agora”. “Eu também posso trabalhar em projectos relacionados com Sines, mas em Madrid”. Em troca, o melhor que consegui foi o comentário "tu tens muita pressa, daqui a dez anos vais ver que já viajas a Madrid".
E portanto, quando recebi um telefonema de outra empresa a perguntar "Ainda está interessada em viver e trabalhar em Madrid?", não tive grandes dúvidas nem grandes dilemas existenciais.
Faz agora um ano que entreguei a minha carta de demissão. O mesmo director de RH que me contratou disse-me "nós sabíamos que o teu perfil se enquadrava mais para os escritórios centrais, a gerir um grupo de pessoas, mas agora precisávamos de gente aqui." Numa entrevista de saída que fiz com um tipo de Madrid, ele agradeceu-me imenso a clareza com que lhe tinha explicado toda a situação, que batia tudo certo com os números que tinha, mas agora conseguia compreender o que realmente se passava. E que achava que eu tinha muito jeito para recursos humanos (medo).
No mês passado, soube que a Repsol trouxe, da Argentina para Madrid, mais uma pessoa para a gestão do projecto de Sines. Ri-me. Tontos. Podia ter sido eu, ficava-lhes mais barato e não tinham perdido um recurso humano em quem gastaram o que gastaram e que, caso tivessem feito as coisas bem feitas, teria sido o trabalhador mais dedicado do mundo. E, quando penso nisto, sei qual foi o meu erro: ter vontade própria. Nunca gostei que me impusessem nada.
28.4.08
24.4.08
Os caracóis também fazem amor
Todo, todo, todo, todo, yo quiero contigo todo. Poco, muy poco a poco, poco, que venga la magia y estemos solos, solos, solos, solos, yo quiero contigo sólo, solos rozándonos todo, sudando, cachondos, volviéndonos locos, teniendo cachorros, clavarnos los ojos, bebernos a morro.
23.4.08
Dia do Livro
E porque hoje é o Dia do Livro, aproveitei para comprar a recém-lançada sequela do bestseller "La sombra del Viento", o primeiro livro que li em espanhol. Lindo lindo lindo. Mal posso esperar por começar o "El juego del ángel". Aliás, é mesmo isso que vou fazer. Vou ler. Até logo!
22.4.08
A propósito, nunca referi que não uso corrector ortográfico em português. O facto de escrever muito em espanhol faz-me confundir muitos acentos e palavras e portanto obrigo-me a escrever sem a ajuda do corrector, de modo a estar mais atenta e não "perder" o português.
Sendo assim, agradeço que me avisem dos erros que encontrem (pelo menos dos mais flagrantes e vergonhosos :)).
16.4.08
Arte?
Pode ser a fotografia considerada arte? A discussão continua viva nos nossos dias... em relação a esta foto, não sei se é arte, mas é um bonito nu. E, por sinal, de luxo:foi leiloado pela simbólica quantia de $91000.
15.4.08
Anúncio de Emprego
Como se pode ver, oportunidades não faltam por estas bandas (os 8% de desemprego é tudo malta da construção e das imobiliárias). Se até têm de pagar para arranjar alguém que se disponha a parasitar pelo mundial de Fórmula 1 durante uns meses, já podem imaginar...
Mas pensando bem, isto não é pêra doce. Este ingénuo e simpático anúncio é um autêntico lobo com pele de cordeiro. Analisemos em detalhe os requisitos do posto: para começar, "Ser autêntico fã do Fernando Alonso."... hum... difícil. Da maneira que aquele gajo é enjoadinho e mimado? Quem é que os vai convencer que é um verdadeiro fã? Já vão ver, ao fim de uma semana andam o Alonso e o fã à estalada por tudo e por nada.
"Aptitudes comunicativas y de relación, don de gente." Lá está, aqui já estão, subliminarmente, a avisar, há que ter paciência para o Alonso, falar-lhe com jeitinho, fazer-lhe as vontadinhas... não tem nada a ver com andar na boa vai ela com as jeitosas das promotoras, não não, isso é o que os da ING querem que o pobre desempregado pense, aldrabões.
"Disponibilidad para viajar con el equipo alrededor del mundo." Gente parasita e gente com vontade de parasitar abunda, mas que reúna também as anteriores condições? A ING nem sabe a alhada em que se meteu ao prometer um fã de estimação ao Alonso.
Bom, eu publico o anúncio porque sei que as coisas não andam muito bem por terras lusas, talvez encha as medidas a alguém... mas o aviso fica dado: cuidado com o que desejam. Se, ainda assim, quiserem mandar CV, não venham depois com lamentações. Já dizia o meu amigo Hélder, "cada um tem o que merece" (que frase mais estúpida, por certo).
Mas pensando bem, isto não é pêra doce. Este ingénuo e simpático anúncio é um autêntico lobo com pele de cordeiro. Analisemos em detalhe os requisitos do posto: para começar, "Ser autêntico fã do Fernando Alonso."... hum... difícil. Da maneira que aquele gajo é enjoadinho e mimado? Quem é que os vai convencer que é um verdadeiro fã? Já vão ver, ao fim de uma semana andam o Alonso e o fã à estalada por tudo e por nada.
"Aptitudes comunicativas y de relación, don de gente." Lá está, aqui já estão, subliminarmente, a avisar, há que ter paciência para o Alonso, falar-lhe com jeitinho, fazer-lhe as vontadinhas... não tem nada a ver com andar na boa vai ela com as jeitosas das promotoras, não não, isso é o que os da ING querem que o pobre desempregado pense, aldrabões.
"Disponibilidad para viajar con el equipo alrededor del mundo." Gente parasita e gente com vontade de parasitar abunda, mas que reúna também as anteriores condições? A ING nem sabe a alhada em que se meteu ao prometer um fã de estimação ao Alonso.
Bom, eu publico o anúncio porque sei que as coisas não andam muito bem por terras lusas, talvez encha as medidas a alguém... mas o aviso fica dado: cuidado com o que desejam. Se, ainda assim, quiserem mandar CV, não venham depois com lamentações. Já dizia o meu amigo Hélder, "cada um tem o que merece" (que frase mais estúpida, por certo).
12.4.08
Bons ventos
Hoje Zapatero apresentou o seu novo governo. Quando vim para Espanha não ia muito à bola com ele, mas a verdade é que pouco a pouco tem vindo a conquistar a minha simpatia (e que fique claro que não tem nada a ver com a promessa eleitoral da devolução de 400€ de impostos a cada pessoa, que me pareceu perfeitamente despropositada e ridícula).
Claro que o Rajoy também dá uma ajudinha. É certo que comparativamente falando, o Rajoy encontra-se a muitos anos-luz de qualquer dos actuais protagonistas da direita portuguesa, mas aquele discurso conservador-catastrófico-anti-imigração dele falado em "belfês", ora me dá vontade de rir ou de chorar, mas nenhuma das duas é uma reacção muito positiva, politicamente falando.
Hoje o Zapatero deu-me uma alegria infinita, pois provou o que eu defendo há muito em acaloradas discussões (sim, tonta, continuo a gastar o meu latim). Um homem feminista não aparenta ser nem rabeta nem parvo. Mais, é extremamente sexy e também, um sinal óbvio de inteligência. Ser feminista nos dias de hoje é tão simplesmente defender a igualdade de direitos e deveres da população, sejam mulheres ou homens. Tão simples quanto isto. E, vá-se lá perceber, tão difícil de encaixar para tanta gente.
(Um parêntisis: o mais assustador é que isto não é só um problema de velhos de outros tempos com outra educação, etc., etc.. Lembro-me perfeitamente que vários dos meus colegas da Direcção da AEIST diziam-me, em tom trocista, que "isso" da desigualdade já não existia e que era coisa da minha cabeça. E algumas das meninas defendiam, com ar chocado, revirando os olhos e abanando, que eram "completamente contra" o feminismo - como se falassem de uma peça de roupa démodé.)
Mas afinal, porque estou tão contente com o Zapa? É que hoje, dia 12 de Abril de 2008, é um dia histórico. O governo espanhol tem, pela primeira vez, mais mulheres (nove) que homens (oito). Mas mais importante que o número, é o facto de, também pela primeira vez em Espanha, uma mulher ser titular da pasta da Defesa. E isto não fica por aqui: a dita senhora, Carme Chacón, tem 37 anos, dará à luz no Verão e portanto utilizará a licença de parto durante o exercício da legislatura. Foi ainda criado o Ministério da Igualdade, e a ministra escolhida, Bibiana Aido, é uma jovem de 31 anos!
Ora digam-me se isto não é um sinal dos tempos? As coisas vão mudando, pouco a pouco, vão-se tornando mais normais, mais aceites, e nada como um bom exemplo vindo de cima para potenciar mudanças. É verdade que as questões mais flagrantes de desigualdade estão mais abaixo, onde precisamente é mais difícil chegar, mas raios, é preciso começar por algum lado. E Espanha já há muito que tem várias mulheres no Parlamento e no Governo. (Perguntinha politicamente incorrecta: será também por isto que Espanha está onde está... e nós... enfim... estamos onde estamos?)
Caro José Sócrates, tu que és tão buddy do Zapa, olha-me para este exemplo de modernidade e segue-o, por favor (sim, que as eleições, essas, já as ganhaste). Mas não te limites a pôr mais mulheres no executivo, não, que mulheres incompetentes também as há, e aposto que muitas até estão na "máquina". Por não és original e fazes um processo de selecção? Há tantas mulheres competentes, honestas, sem os vícios político-partidários dos militantes e que ainda para mais te fizeram o favor de não ficar em Portugal a parasitar e a engordar os números do desemprego...
Olha, quanto a mim, contento-me com a pasta do Ambiente!!! E vendo bem as coisas, faço 28 anos ainda este ano, já não sou assim tão nova e inexperiente... Pelo mesmo que ganho aqui mudo-me Lisboa e ainda me sujeito a ser criticada, incompreendida e humilhada na imprensa e nas ruas diariamente (que o povo e os jornalistas são tudo gente da mesma raça).
E tudo isto porquê? Porque tenho ganas de fazer alguma coisa decente pelo meu querido Portugal, que nunca me deu uma oportunidade para nada, mas ainda assim, não percebo, é o país que tenho no meu coração (isto soa a canção de emigras, medo). Aposto que patriotismo deste, nos gatos gordos que populam a política, não o vês todos os dias. Caro José, se estiveres interessado, contacta-me para o hamaismundos@gmail.com.
(E se alguém conhece o Sócrates avise-o disto, por favor, não vá ser que logo hoje ele não passe por aqui).
Estou feliz.
11.4.08
A minha vida...
... é composta por muitos, infidáveis e intermináveis P&IDs (Piping & Instrumentation Diagrams). Não pensei que o nome dado a esta fase do projecto - engenharia de detalhe - fosse tão absolutamente verdadeiro. Agora sim, sei o significado de "detalhe".
Há sempre mais uma correcção, mais uma inconsistência, mais uma recomendação do licenciante, mais um pedido do cliente, mais um hold, mais uma nota, mais um typo, mais outro typo, mais um cost saving, mais alguma coisinha irritante mas importante para o correcto e óptimo e seguro e não-poluente funcionamento da futura fábrica. Enquanto a porra do complexo não fica construído e a funcionar, não há luz ao fundo do túnel.
Que muito se aprende, é verdade e valorizo-o, mas sinceramente, os meus neurónios estão muito cansadinhos desta trabalheira toda. Depois disto, um MBA é canja.
PS - Ah, é verdade, descobri que o Bush tem um MBA de Harvard. Aqueles tipos deviam ser encerrados por crimes contra a humanidade.
9.4.08
Controvérsia
Controvérsias - Uma História Ética e Jurídica da Fotografia é a nova exposição que pode ser visitada no Musée de l’Elysée, em Lausanne, até ao final do mês de Maio. Imperdível, pelo menos para quem está ali pela zona. Eu não vou poder fazer mais que esperar que esta exposição tenha muito êxito (previsível), e mais tarde a decidam repetir aqui na penísula.
Acho que não se nota muito, mas eu adoro fotografia. Mas gosto sobretudo da fotografia pelas palavras que são ditas sem serem escritas, por tudo o que uma foto pode encerrar de significado e de história. É por isso que é-me difícil gostar de uma foto que seja simplesmente bonita (mesmo que sejam de gatinhos) e, ao invés, tenho uma espécie de reacção pavloviana a uma foto forte, sinto-me a salivar e fico excitada com a quantidade de sinapses, que, de repente, o meu cérebro bombardeia.
Lembro-me que, há uns anos, no âmbito de uma cadeira opcional chamada Limites da Ciência - Arte, Tecnologia e Sociedade (vulgo ECATS, que saudades do Jorge Calado), fiz um trabalho sobre a obra Alice no País das Maravilhas. Fartei-me de ler coisas sobre o Lewis Carroll, e no meio de tudo aquilo comprei um livro chamado Meninas. Ora, para quem não sabe, Lewis Carroll gostava muito de meninas. Alice no País das Maravilhas foi baseado e escrito para Alice Lidell, que Lewis costumava levar ao teatro, a beber chá, etc. Quando os meus olhos se pousaram naquele livro, repleto de fotos de meninas (inclusivamente alguns nus), não pude resistir-me a um sentimento de nojo profundo, porque, sinceramente, aquilo não me pareceu mais que pedofilia disfarçada de, de, de... não sei, nem sei bem o que senti.
Mas claro, isto é um sintoma dos nossos dias. Há dez anos, quantos portugueses de classe média conheciam a palavra pedofilia? Hoje tudo se tornou um tabu, e não é que as coisas aconteçam mais, é simplesmente porque agora as notícias circulam. Todo e qualquer gesto em relação a uma criança passou a ser visto com desconfiança, e eu nem sequer o posso criticar, é compreensível.
Mas não sei, ao mesmo tempo não sei o que pensar. Não sou psicóloga, não estudo o comportamento humano, mas eu gostava tanto dos desenhos animados da Alice que a mera possibilidade (não comprovada) de que aquilo tudo pudesse ter, por trás, uma história de abuso sexual de menores, irrita-me e baralha-me os valores. (Mas isto também é outro problema nosso, tendemos a imaginar os artistas e cientistas como pessoas "boas", mas normalmente só a sua obra foi boa, a maioria foram - e são - uns filhos da puta.)
Nesta exposição estão muitos tipos de fotos controversas. Lembram-se da foto da freira a beijar o padre, da Benetton? A mão "arrancada" de um qualquer corpo do 11 de Setembro, que quebrou o acordo de se não mostrarem os mortos na imprensa? Mas também lá estão nus de meninas, (passe a controvérsia) escolha lógica e acertada dada a actual importância do tema, tão discutido, tão debatido e teorizado, da pedofilia.
Está lá a Brooke Shields (aos dez anos e com cara de adulta!), mas chamou-me mais a atenção a foto de um americano, Jock Sturges, especialista em nus de adolescentes que teve inúmeros problemas com a justiça e que finalmente viu reconhecida em tribunal a natureza artística do seu trabalho. A propósito disto, afirmou que seria impossível voltar a fazer as suas fotos no "mundo actual".
O que me leva a questionar: em parte, não será nosso o problema? Não está o nosso "mundo actual" a ver pecados em tudo? A proibir em demasia? Será que, realmente, tudo o que se decide que é mau é realmente mau? Ou será que é apenas um artifício para pensarmos que assim estamos mais protegidos contra o "verdadeiramente" mau e contra os "verdadeiros" maus? Contas feitas, estaremos mesmo?
Acho que não se nota muito, mas eu adoro fotografia. Mas gosto sobretudo da fotografia pelas palavras que são ditas sem serem escritas, por tudo o que uma foto pode encerrar de significado e de história. É por isso que é-me difícil gostar de uma foto que seja simplesmente bonita (mesmo que sejam de gatinhos) e, ao invés, tenho uma espécie de reacção pavloviana a uma foto forte, sinto-me a salivar e fico excitada com a quantidade de sinapses, que, de repente, o meu cérebro bombardeia.
Lembro-me que, há uns anos, no âmbito de uma cadeira opcional chamada Limites da Ciência - Arte, Tecnologia e Sociedade (vulgo ECATS, que saudades do Jorge Calado), fiz um trabalho sobre a obra Alice no País das Maravilhas. Fartei-me de ler coisas sobre o Lewis Carroll, e no meio de tudo aquilo comprei um livro chamado Meninas. Ora, para quem não sabe, Lewis Carroll gostava muito de meninas. Alice no País das Maravilhas foi baseado e escrito para Alice Lidell, que Lewis costumava levar ao teatro, a beber chá, etc. Quando os meus olhos se pousaram naquele livro, repleto de fotos de meninas (inclusivamente alguns nus), não pude resistir-me a um sentimento de nojo profundo, porque, sinceramente, aquilo não me pareceu mais que pedofilia disfarçada de, de, de... não sei, nem sei bem o que senti.
Mas claro, isto é um sintoma dos nossos dias. Há dez anos, quantos portugueses de classe média conheciam a palavra pedofilia? Hoje tudo se tornou um tabu, e não é que as coisas aconteçam mais, é simplesmente porque agora as notícias circulam. Todo e qualquer gesto em relação a uma criança passou a ser visto com desconfiança, e eu nem sequer o posso criticar, é compreensível.
Mas não sei, ao mesmo tempo não sei o que pensar. Não sou psicóloga, não estudo o comportamento humano, mas eu gostava tanto dos desenhos animados da Alice que a mera possibilidade (não comprovada) de que aquilo tudo pudesse ter, por trás, uma história de abuso sexual de menores, irrita-me e baralha-me os valores. (Mas isto também é outro problema nosso, tendemos a imaginar os artistas e cientistas como pessoas "boas", mas normalmente só a sua obra foi boa, a maioria foram - e são - uns filhos da puta.)
Nesta exposição estão muitos tipos de fotos controversas. Lembram-se da foto da freira a beijar o padre, da Benetton? A mão "arrancada" de um qualquer corpo do 11 de Setembro, que quebrou o acordo de se não mostrarem os mortos na imprensa? Mas também lá estão nus de meninas, (passe a controvérsia) escolha lógica e acertada dada a actual importância do tema, tão discutido, tão debatido e teorizado, da pedofilia.
Está lá a Brooke Shields (aos dez anos e com cara de adulta!), mas chamou-me mais a atenção a foto de um americano, Jock Sturges, especialista em nus de adolescentes que teve inúmeros problemas com a justiça e que finalmente viu reconhecida em tribunal a natureza artística do seu trabalho. A propósito disto, afirmou que seria impossível voltar a fazer as suas fotos no "mundo actual".
O que me leva a questionar: em parte, não será nosso o problema? Não está o nosso "mundo actual" a ver pecados em tudo? A proibir em demasia? Será que, realmente, tudo o que se decide que é mau é realmente mau? Ou será que é apenas um artifício para pensarmos que assim estamos mais protegidos contra o "verdadeiramente" mau e contra os "verdadeiros" maus? Contas feitas, estaremos mesmo?
8.4.08
Arroz grátis
Com o mundo cada vez mais alarmado com a subida do preço do arroz (48% no primeiro trimestre de 2008, a maior subida dos últimos 14 anos) todos temos mais uma (boa) desculpa para não nos limitarmos a ser formiguinhas indiferentes à história do mundo e contribuirmos para minimizar o sofrimento dos que menos têm.
Há uma maneira muito fácil e original de ajudar. Ainda por cima divertida. E ainda por cima aprendemos.
Há pouco descobri o Free Rice, um site onde, além de se aprender montões de vocabulário (ou pelo menos comprovar o que se sabe), estamos a ajudar activamente na luta contra a fome e a pobreza extremas.
É ver para crer. Ainda por cima, viciante.
Há uma maneira muito fácil e original de ajudar. Ainda por cima divertida. E ainda por cima aprendemos.
Há pouco descobri o Free Rice, um site onde, além de se aprender montões de vocabulário (ou pelo menos comprovar o que se sabe), estamos a ajudar activamente na luta contra a fome e a pobreza extremas.
É ver para crer. Ainda por cima, viciante.
Nota: A página e o vocabulário são em inglês. Os professores desse Portugal salgado não gostariam de ter ideias assim giras e fazer qualquer coisa de útil, já que a maioria tanto reclama e tão mal ensina?
7.4.08
Foi há um ano...
2.4.08
A fiesta nunca acaba!
"Perante tal condensado de más notícias, que se segue a uma série de empresas do sector imobiliário a entrarem em dificuldades, mal se compreende como, apesar de tudo, os espanhóis continuam a luzir, nas ruas, a sua proverbial alegria de viver."
Cara Luísa Bessa:
hellooooooooooooooooooo!?!?! "Mal se compreende" como??? Por acaso Espanha já não é a sétima potência mundial? Por acaso Espanha deixou de crescer??? Por acaso Espanha chegou onde chegou a cantar o fado???
O que é triste é ver-nos a nós, invejosos e mesquinhos na nossa esquina da Península Ibérica, a não "compreendermos" como é que eles conseguem, apesar de tantas "más notícias", continuarem a "luzir, na rua, a sua proverbial alegria de viver".
Não há derrota em guerra alguma, ditadura, crise económica ou atentado terrorista que arranque a festa do corpo desta gente. Lição número 1 do manual: se habla mal de españa, es español. Lição número 2 do manual: sigue bailando mientras lo hace.
Um conselho: venha passar um fim-de-semana a Madrid que isso passa.
Atentamente,
Margarida Constantino
1.4.08
Mais uma boa razão para passar por Madrid...
... pode ser que se cruzem com esta menina, à saída das suas aulas de representação.
PS - O facto de Madrid ter para aí umas seis vezes mais população que Lisboa, não tem nada a ver. Já se sabe que os emigras (principalmente os tugas) descobrem-se mutuamente como por magia. Se for magia da boa, até pode ser que vos saia a Soraia na rifa!
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