5.2.08

Desabafo

A perspectiva de mudar de vida assusta sempre. Numa relação, entre os bons e os maus momentos, há sempre uma infinidade de coisas associadas que baralham as contas ao melhor matemático, fazendo com que nunca seja apenas uma questão de sim ou não, de demasiado amor ou falta dele. O problema é que o amor nunca é puro. Existem pequenas coisas (às vezes não tão pequenas assim) que simplesmente não se podem ignorar. Essas coisas vão andando pelo meio das relações, de mansinho, como uma gripe que não mata, mas mói. No final, das duas uma, ou as aceitamos, ou prescindimos delas. Se as aceitamos, temos realmente que seguir em frente, é um ponto final e não pode servir mais tarde de desculpa para, numa discussão encalorada, atirar tudo à cara da outra pessoa. Se não as aceitamos, prescindimos delas e portanto do seu "portador" - e a relação acaba. Devia ser só isto, mas - e tem de haver sempre um mas que retira exactidão à equação - quando o "das duas uma" se transforma numa terceira via que tenta misturar o melhor dos dois mundos, está o caldo entornado. Ou seja, como não se quere prescindir do "portador", tenta-se aceitar algo que não se quer aceitar, mas tenta-se. E tenta-se, e tenta-se. E tenta-se mais um bocadinho. E quanto mais se tenta, mais cresce aquilo que dentro de nós nos diz que aceitar isso é prescindir da pessoa que somos. Mas se a soma de tudo ainda assim for positiva... foge-se para a frente? Tenta-se não pensar no assunto? Eu já vivi uma relação que chegou a um ponto que se podia descrever genericamente como o que acabo de escrever. E da minha experiência, a conclusão que tirei é esta: eu demoro a encher, mas um dia, a casa vem abaixo. Foi uma merda do caraças, posso garantir, mas ainda deu para aprender outra coisa: não há nada que o tempo não cure. Demora - e dói, muito - mas um dia, voa com o vento.

4 comentários:

Anónimo disse...

Margarida,

compreendo as tuas palavras mas acho que muitas vezes somos demasiado exigentes.

Dei por mim a ser assim e muitas vezes era exactamente o contrário com, por exemplo, amigos meus.

Perdoava as mais profundas desconsiderações, no entanto com a pessoa que estava ao meu lado não conseguia ser assim.

Hoje em dia mudei consideravelmente porque sei que também não sou ' pêra doce ' de aturar e acho que a vivência e o que a vida nos ensina é mesmo isso : não podemos só ver o preto e o branco mas perceber que muitas vezes o que temos é o cinzento com a sua gradação de cores...

Quando dizes que enches, acho que aí é que está o problema que faz com que se deite muita coisa a perder.

O tempo ... o tempo cura tudo mas leva também boas oportunidades e a nossa juventude. Como sabes passei por uns quantos dissabores mas sempre recusei tornar-me numa pessoa amargurada pela vida.

Chega o dia em que temos que pensar no nosso futuro a um nível que não seja só o profissional ... afinal todos precisamos de amor. E a verdade é que complicamos muito as relações em vez de nos focarmos em sermos e fazermos alguém feliz.

Beijo !

Jo

Anónimo disse...

... além disso amiga, se há alguém que já está calejada de mudar de vida és tu !!!! :D

Alberto disse...

Olá Margarida!Bonito texto!Acho que muitos de nós viveram esses dilemas e 'trilemas', sentiram a dificuldade de findar uma etapa da vida por medos, perderam a sua identidade... O que aprendi foi que quanto melhores e maiores formos (sim, maiores no sentido do nosso crescimento pessoal)e se soubermos o que realmente queremos para a nossa vida, mais seguros estarmos de escolher quem nos acompanha no nosso caminho. Sim, o tempo tudo cura, memso com as dores insuportáveis do momento...Um beijo de Barcelona, Alberto

Unknown disse...

Joana, concordo contigo, mas uma coisa é sermos pacientes, outra coisa é mudarmos os nossos valores porque ao outro lhe parece melhor. Era mais por aí que eu queria ir no texto. De qualquer forma, compreendo e concordo com o que dizes, cada um tem de adaptar um bocadinho... devias era postar isso num blog teu! :p

Alberto, obrigada pela visita e pelo elogio!
O que eu gosto mesmo é de escrever textos deste estilo, mas com as pressas do dia a dia normalmente não sobra muita paciÊncia! Não posso retribuir a visita porque o perfil não está disponível e não sei se tens algum blog. Tens?