Até amanhã, domingo, decorre a semana do orgulho gay. Pela primeira vez Madrid é a cidade anfitrã dos acontecimentos, que visam chamar a atenção para a discriminação e desigualdade que os homossexuais e lésbicas de todo o mundo enfrentam nas sua vidas. Assim descrito de modo rápido e comezinho, as festas do orgulho gay são uma mistura de santos populares (argh!, vide este post) com freak show do mais alto nível. Está claro que a Margarida, sempre sedenta de experiências novas, diferentes e que a façam sentir uma cidadã do mundo, não faltou à festarola.
Conclusão: choca-me. Pronto, já o disse. Não vou estar aqui com merdas muito politicamente correctas e dizer que é tudo muito normal e que tal e que qual. Eu realmente acho que os direitos devem ser os mesmos, e os deveres também, como de resto também o penso em relação a homens/mulheres, pretos/brancos, cristãos/mulçumanos. Por isso não faço distinção quando os grupos envolvidos são heteros/homos. Mas que posso fazer? Não é o meu mundo. E por isso choca-me. Ao mesmo tempo que me fascina. Em algumas situações mete-me nojo, mas também me metem nojo os casaisinhos hetero aos beijos melados no metro. Desde esse ponto de vista sou algo conservadora. Não me agradam muito exibicionismos. Mas pronto, quer dizer, orgulho gay is all about that, é o exibicionismo na sua vertente mais animal e instintiva, e eu fui-me lá meter no meio de livre vontade. Por isso, não me queixo.
Ontem a noite começou num restaurante super in da Chueca, o famoso bairro de Madrid centro de todos os eventos “gay related”. Mas o melhor, claro está, veio depois. A Chueca estava cheia até mais não, em todas os largos estavam montados palcos onde decorriam shows, concursos de misses, de karaoke e por toda a parte estavam montados ecrãs gigantes a passar imagens de homens nus com corpos musculados e depilados. Em tudo o que era palanco grupos de homens dançavam de forma marcadamente sexual, vários seminus e claramente alterados. Por todas as partes, homens. Altos, baixos, gordos, magros, bonitos, feios. Paneleiros assumidíssimos e felizes.
Senti-me um bocado magoada. Supostamente este também é um evento de lésbicas, mas não só são em muito menor número como a imagem da mulher como símbolo da sensualidade e beleza foi completamente banida. É incível, porque metade daqueles homens já não é que sejam simplesmente homossexuais, mas querem também ser mulheres. No entanto, imagens de mulheres “verdadeiras”, nem vê-las.
Por outro lado também me senti bem. Enquanto era esmagada por magotes de gente ao passar nas zonas mais congestionadas, ocorreu-me que, se aquilo fossem os santos populares, eu já tinha sido apalpada umas vinte vezes. No entanto, ali, a única preocupação foi agarrar-me à minha mini mala com unhas e dentes.
Foi divertido, e sobretudo, diferente. Sem dúvida, o ambiente transbordava igualdade. Um olhar mais atento leva-nos de volta a essa eterna questão das sociedades democráticas: quem decide o que é “normal”, a maioria? Mas para que a democracia seja justa, situações há em que tem de ser a própria maioria a decidir por una minoria. Não faz sentido atribuir o ónus da razão com um pressuposto numérico, ainda que este seja o que mais ânimos apazigua.
De resto, nada mais. Todos os homens altos, bonitos e espadaúdos de Espanha estão na Chueca, ie, são gays. E, eu, lá no meio, a minoria "gaja, hetero" de serviço. Não há dúvidas, há mais mundos. Muitos mais. Muitos, mesmo.
2 comentários:
Olá Maggie,
Era só para deixar um olá! Cada vez conheço mais gente a viver em Madrid e de vez em quando vou aí! Quando estiver por aí depois podiamos tomar um café!
Beijinhos,
André Bartolomeu
oláaaaaaaaaaaaaa!
Claro que sim, quando vieres cá tens de me avisar! Já reparei que também tens blog(s), vou já lá espreitar! ;) beijinhos, margarida.
Enviar um comentário