Depois de dois dias a decidir como "emprateleirar" Cartagena (ou pelo menos o fim-de-semana que lá passei) acho não restam dúvidas de que foi assim parecido como as conversas da Bluebluesky. Surreal. Ou até mesmo (sur)real ou, como se diz em português, (sul)real.
Os meus amigos, grandes amigos, não sei se melhores que os vossos mas também não me interessa porque, seja como for, são meus e é a mim que mimam, vivem num dos vários campos de golfe que por ali existem. Tipo, têm jacuzzi no terraço e um corredor da largura da minha sala. Luxo e boa vida, check.
Depois, centro de Cartagena, arranjadinho, ou talvez seja melhor dizer que o epicentro de Cartagena está arranjadinho (dinheirinho da refinaria, ah pois é) mas depois, espreitando pelas transversais à rua principal vê-se mato e prédios devolutos e prédios muito feios cuja construção jamais deveria ter sido permitida em tempo algum. A metade do anfiteatro que sobreviveu ao tsunami da construção está afundada no meio de prédios mas, no meio da tristeza que sinto por ver património histórico tão maltratado, quase que me sinto também contente, gosto sempre quando vejo coisas piores que em Portugal. É um sentimento rasca, eu sei. Corrupção e pressão urbanística, check.
Almoçamos num restaurante de aspecto duvidoso mas com comida absolutamente fabulosa, até os tomates, e eu não sou muito amiga de tomates, mas a sério, que maravilha, um digníssimo manjar dos deuses, tenho a dizer. Tal foi a glutisse que só tirei foto aos restos do primeiro prato. Gastronomia, check.
As obras da refinaria nova são outra festa para os meus sentidos - sorry, sou engenheira química e sim, as fábricas são lindas quando são novas e/ou bem tratadas (alguém acha feia a torre de cracking catalítico que foi recuperada e está plantada no meio do Parque das Nações?). A refinaria está mesmo a ficar linda e é tudo enorme, o coker é tãooo imponente, a flare são na realidade três muito juntinhas, um mimo. Indústria, check.
Continuando o passeio e agradecendo aos céus ter-me presenteado amigos que me mostram a realidade e não apenas os campos de golfe, damos um passeio pelas serras esquartejadas por antigas minas desactivadas. Um horror, um cenário mad maxiano, no mínimo. É que não dá para explicar, só visto.
E chegamos ao creme de la creme mas ao contrário, a antiga baía de Portman, ex-futuro património da humanidade, actualmente um pântano à espera que alguém se lembre de restaurar os danos resultantes de décadas de descargas da porcaria mineira, se é que tal é possivel, afinal a natureza não é uma cadeira e um restauro não permite anular as barbaridades do passado. Crimes contra a humanidade, check.
A aldeia de Portman vai pela mesma linha, um lugarejo feio de vivendas com piscinas e cães e gatos cadavéricos (tão a ver as fotos dos judeus em campos de concentração? isso) a vaguear por ali. Um horror, já sabem que a mim a questão dos animais (e a indiferença das pessoas e dos governos) revolta-me especialmente. Desrespeito pela vida animal, check.
Andamos três kilometros e estamos outra vez nos campos de golfe, foi como mudar de canal, trocar o chip, ligar a playstation, eu sei lá, é impossível que aquilo seja tudo o mesmo mundo, tão perto e tão longe, mas como, como? Surrealismo se ainda havia dúvidas, check.
À noite, noutro pueblo de mala muerte, descobrimos o melhor restaurante de sushi de todos os tempos. Mais uma pitada de surrealismo, pois. Como ali? Em Los Belones, seriously? Sushi? Bom? Não, não bom, estou mesmo a falar de mais outro manjar dos deuses. Mais gastronomia e surrealismo, duplo check.
O dia de praia foi o primeiro e foi bom, muito bom, a praia era recôndita e engraçada, a companhia fabulosa, a água limpa, os montes bonitos e imponentes. Torrar ao sol, check.
Mas ali ao lado está La Manga, uma língua de terra rodeada de mar que assim vista de longe mais parece um mini Dubai, mais da mesma fúria urbanística, mais corrupção e deixa construir, alto e grande, que é para render. Mais checks seja do que for, que me perdi.
Enfim, foi assim o meu fim-de-semana. Meio doce, meio amargo. Meio quero voltar a correr na sexta-feira, meio nunca mais te ponho os olhos em cima. Contas feitas, acho que vale a pena, ainda que seja por acaso ou circunstânica, conhecer estas terras improváveis, estes emaranhados do que é e do que podia ter sido. Há sempre mais mundos para além daqueles com que sonhamos. Isto era só um fim-de-semana na praia, Margarida, e tu a dar-lhe com as teorias de quantos mundos o mundo tem. Desta não estavas à espera. Vai buscar, check.
2 comentários:
És muito boa.
Naaa, tu é que és uma querida. Mas já agora fica sabendo que tenho uns bonitos olhos! :p
Beijinho
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